Quando o cantor Adam Lambert iniciar uma homenagem ao grupo Queen, exatamente às 17h deste domingo (24), em Los Angeles (22h em Brasília), os organizadores da 91ª cerimônia de entrega do Oscar vão ligar o cronômetro e cruzar os dedos – vai começar uma contagem regressiva que, esperam eles, não ultrapasse as três horas de duração.
Adam Lambert ao lado do Ator Rami Malek que interpretou Fred Mercury
Afinal, o fantasma do ano passado, quando a festa de Hollywood durou quase quatro horas e foi vista por “apenas” 26,5 milhões de espectadores nos Estados Unidos (a pior marca desde que o Oscar passou a ser televisionado, em 1953), ainda assombra os produtores, que tomaram diversas atitudes (algumas descabidas) para evitar a piora na derrocada.
Uma delas foi não escolher um artista para ser o âncora da festa, algo que não acontecia desde 1989. Assim, não haverá um número musical satirizando os indicados, tampouco um discurso bem-humorado – ainda que, extraoficialmente, circulou a notícia de que Whoopi Goldberg surgiria de surpresa, assumindo a missão, mas nada foi confirmado.
Para amenizar a ausência de um apresentador principal, uma legião de estrelas vai passar pelo palco do Dolby Theatre trazendo os envelopes com o nome dos ganhadores, nomes como os já confirmados Javier Bardem, Emilia Clarke, Samuel L. Jackson, Tina Fey, Whoopi Goldberg, Brie Larson, Jennifer Lopez, Charlize Theron, Chadwick Boseman, Helen Mirren, Daniel Craig, Michael B. Jordan, Michael Keaton, Chris Evans, Melissa McCarthy, Jason Momoa e Sarah Paulson.
Para apresentar os oito indicados para o Oscar de melhor filme, foram convidadas personalidades que não atuam diretamente no mundo do cinema, como a tenista Serena Williams e o chef espanhol José Andrés. Já o maestro venezuelano Gustavo Dudamel vai reger a Filarmônica de Los Angeles durante o momento em que serão lembrados os artistas e profissionais que morreram no ano passado. A meta é não perder a agilidade.
“Planejamos para que o primeiro Oscar seja entregue já no sexto ou sétimo minuto da cerimônia”, anunciou Glenn Weiss, uma das produtoras do evento. Ela, aliás, no almoço que reuniu, na quinta-feira (21), a maioria dos indicados, rogou para que todos os vencedores não ultrapassassem os 90 segundos em seus agradecimentos.
“Colaborem e assim todos poderão ir cedo para as festas pós-cerimônia”, brincou.
Se a duração dos discursos pode até ser controlada, o mesmo não se pode dizer de seu conteúdo. No ano passado, quando fervilhavam importantes movimentos como o #MeToo, a cerimônia tornou-se política. Isso, no entanto, foi um dos motivos apresentados pela queda de audiência. E o que esperar neste ano, com tantos filmes abertamente políticos?
Caráter “político” afasta espectadores
Uma pesquisa entre usuários do Twitter nos Estados Unidos apontou que muitos não estão dispostos a assistir à cerimônia do Oscar, na noite deste domingo, 24, por conta de seu “caráter político”. Outra consulta com possíveis espectadores norte-americanos descobriu que 39% deles podem desligar a TV pelo mesmo motivo. “Político”, no entendimento dessas pessoas, significa discursos de aceitação partidária. Seguindo esse raciocínio, é de se esperar, portanto, uma nova queda na audiência da transmissão uma vez que, entre os oito indicados para o Oscar de melhor filme, seis apresentam enredos com fortes cores políticas – as exceções seriam Nasce uma Estrela e Bohemian Rapsody.
Daquela meia dúzia, um é escancaradamente político: Vice, que apresenta de forma até cômica a trajetória do ex-vice-presidente dos EUA Dick Chaney. Já Infiltrado na Klan apresenta uma trama que põe em confronto o racismo do grupo Ku Klux Klan com o poderoso movimento do poder negro na década de 1970. E Pantera Negra recria a clássica série de HQ sobre dois primos que lutam pelo trono de uma superpotência africana fictícia.
Por falar em realeza, A Favorita concentra sua trama na disputa entre duas mulheres pela influência política que cerca a rainha Anne. E, mesmo que não seja tão evidente quanto os quatro anteriores, Green Book – O Guia percorre também por caminhos do racismo ao mostrar um pianista negro tentando se impor pelos direitos civis, na década de 1960. E, finalmente, Roma toma um rumo sombrio quando um protesto estudantil da Cidade do México se torna violento.
a Academia de Hollywood tem a chance, segundo a maioria dos críticos, de revelar um avanço em seus ideias considerados conservadores se premiar Pantera Negra ou Roma – com esse último, aliás, quebraria duas barreiras: eleger um filme em língua estrangeira e produzido por uma companhia sem tradição cinematográfica, a Netflix. Seja quem for, um discurso político parece iminente.
Fonte: OP9
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